O QUE VIMOS NOS ÚLTIMOS DIAS EM CINEMA
O que vimos e ouvimos nos últimos dias acerca da sétima arte? O que mudou no atual panorama nacional e internacional? Aqui fica o nosso balanço.
Nos últimos dias assistimos ao desfecho da temporada de prémios com a atribuição dos Óscares aos melhores filmes de 2015. Não foi apenas a cerimónia que entregou, merecida e finalmente, o galardão de melhor ator a Leonardo DiCaprio – cujas piadas e memes nos meios on-line ainda não tiveram tempo suficiente para se reajustar -, como tratou-se da edição em que um filme sobre abusos sexuais por parte de alguns membros da Igreja Católica saiu como principal vencedor da noite.
“O Caso Spotlight” (2015), de Tom McCarthy como assim se chama este importante projeto, centraliza-se no denso trabalho de investigação levado a cabo pelo jornal norte-americano The Boston Globe em 2001. Na verdade, há uma estreita tentativa de reafirmar o quarto poder do jornalismo, que de uma forma ou de outra, parece ser um fantasma que deambula entre o mais popular e barato sensacionalismo de massas. Questões ético-morais à parte, “Spotlight” pretende inclusive que muitas vítimas percam o medo e denunciem o sucedido às autoridades, algo que o cinema parece predisposto a ajudar. Pesa ainda o facto de um dos profissionais responsáveis pelo caso ser de origem portuguesa, Michael Rezendes, mais especificamente de descendência açoriana, que é interpretado por Mark Ruffalo, nomeado ao Óscar de melhor ator secundário pelo este desempenho.
Entretanto também uma portuguesa saiu a ganhar, desta vez no Festival Internacional de Berlim. Leonor Teles recebeu o Urso de Ouro na categoria de melhor curta-metragem por “Balada de um Batráquio”, focada nos comportamentos xenófobos em relação a membros da etnia cigana em Portugal. Para a realizadora o prémio foi uma “alegre surpresa”, e deverá ter repercussões positivas no cinema nacional. O filme reflete uma clara emergência de descontruir preconceitos relativamente à comunidade cigana e chama indiretamente à atenção para o assunto dos refugiados, responsável por tantas linhas divisórias política e socialmente.
Talvez alguma (re)educação possa vir do cinema, que nos ajuda a perceber que somos todos iguais. Daí que recomendamos o mais recente êxito da Walt Disney, “Zootrópolis”, em exibição nas salas madeirenses. A aventura animada que já ultrapassou as receitas de bilheteira de “Frozen – O Reino de Gelo”, faz referências pontuais ao racismo e à discriminação e leva-nos a questionar como pode ser possível abordar este assunto em pleno século XXI. Por sua vez, nota-se uma mudança na estética deste género de narrativas. A maioria das produtoras de Hollywood como a Disney ou até a Dreamworks (que estreia em breve “O Panda do Kung Fu 3”) visam uma maior aprendizagem, passando a mensagem tanto para os pais como para os seus filhos.
Ora, vemos que há uma relevante preocupação dos festivais e certames internacionais em destacar nada mais nada menos que as temáticas sociais, que surgem mascaradas no nosso dia-a-dia. De certo modo, a arte consegue sempre impor-se em horas tão alarmantes.
Nas estreias do cinema português o ritmo também não tem jeito de abrandar, e ainda bem. Em exibição continua “Gelo” centralizado na vida de duas mulheres, que se cruzam de forma inesperada. Concebida a partir do ADN de um cadáver congelado com mais de 20.000 anos, Catarina cresce enclausurada num palácio isolado, sob a tutela de Samuel, um investigador que a usa como cobaia num projeto sobre a imortalidade humana. Um intenso suspense realizado pela dupla Gonçalo Galvão Teles e Luís Galvão Teles, além de ser protagonizado por Ivana Baquero, a jovem de “O Labirinto do Fauno” (2006), de Guilhermo del Toro, que envereda por esta humilde, mas interessante parceria luso-espanhola.
Outra novidade é “O Amor é Lindo…Porque Sim!”, que marca o regresso de Vincente Alves do Ó depois de “Florbela”. Nesta comédia muito ao estilo de “A Gaiola Dourada”, de Ruben Alves, dirige vários alunos finalistas da Escola de Atores ACT (boa escolha tendo em conta o talento dos nossos jovens artistas), além das tão divertidas Maria Rueff e Ana Brito e Cunha, numa viagem sobre os costumes tradicionais portugueses no que diz respeito aos relacionamentos. “O Amor é Lindo…Porque Sim!” não é um triângulo amoroso, nem um quadrado nem uma cornucópia, mas um labirinto de emoções, onde a vida tem a graça de um dia de sol e Lisboa é a casa ideal para um final feliz.
Virgílio Jesus