O que vimos nos últimos dias em cinema – primeira semana de abril 2016

O que vimos e ouvimos nos últimos dias acerca da sétima arte? O que mudou no atual panorama nacional e internacional? Aqui fica o nosso balanço.

Para começar, viajamos a toda a velocidade ao mundo de Star Wars: A Guerra das Estrelas e ao lançamento do trailer de Rogue One: Uma História de Star Wars, a primeira de uma nova antologia dedicada à série que já consegui milhões em bilheteiras e outros milhões em merchandising e que deve estrear no final deste ano. O novo filme decorre entre os episódios III e IV e tem um elenco de estrelas desde a nomeada ao Óscar Felicity Jones e o vencedor Forest Whitaker além dos reconhecidos Mads Mikkelsen, Alan Tudyk, Ben Mendelsohn e Riz Ahmed, ator de Nightcrawler: Repórter na Noite. Que a Força esteja do lado desde filme!

Link do trailer

Boa, mais Star Wars! No entanto e porque falar em cinema não se trata apenas de mencionar os exemplos da vertente mainstream (que uns tem filmes brilhantes e outros nem tanto), destacamos o Festival de Cinema Indie e a 8 1/2 Festa do Cinema Italiano que estão prestes a começar (caso do primeiro) ou prestes a terminar (como o caso do segundo), lá na outra banda em Lisboa. Mas e então? Lisboa, claramente enquanto capital do país que é, regista uma adesão favorável a estes panoramas – de referenciar o Doc’ Lisboa, o Lisbon & Estoril Film Festival, o Monstra, o Judaica – que atraem aqueles que fogem ao cinema comercial. Mas e então? Então, perguntamo-nos nós, porque a delimitação à grande cidade? A programação destes e outros circuitos não deveria ter em conta, as preferências cinematográficas dos habitantes das restantes zonas do país? De facto, à excepção 8 1/2 Festa do Cinema Italiano que todos os anos chega à Região Autónoma da Madeira e que na próxima edição deverá exibir o filme de Frederico Fellini 8 e Meio em cópia restaurada, muitos são os filmes que ficam por ver, aqueles os maiores apaixonados contam impacientemente os dias pela reedição em DVD ou Blu-Ray, ou muito lamentavelmente pela versão pirateada de fácil acesso.
Quando a desculpa muitas vezes é a falta de espetadores, que seja pelas razões sócio-culturais ou pela falta de um ritual cinematográfico, que dizia sobretudo respeito aos nossos pais e avós, a região perde no que toca a cinema independente. Temos o caso paradigmático de Boyhood: Momentos de uma Vida, de Richard Linklater ou mais recentemente de Carol, de Todd Haynes, filmes desse panorama indie-americano que mesmo aplaudidos nos Festivais de Berlim e Cannes e mesmo que tivessem recebido nomeações aos Óscares, não chegaram à Madeira. E porquê que as distribuidoras estreiam em simultâneo os mesmos filmes em salas diferentes, quando a ocorrência implicaria também produtos distintos? Bem, sem levantar uma crítica rude diante dessa distribuição, teremos apenas de realçar a exigência de uma sala com cinema contemporâneo, sim aquele cinema que respeita o nosso dia-a-dia, o nosso tempo. É preciso um espaço onde se (re)exiba cinema clássico de Hollywood, da Nouvelle Vague francesa, do Cinema Russo, do Cinema Alemão ou até do Neo-Realismo Italiano. E porquê não uma sala feita com esse intuito, só para sensibilizar e reeducar num nível perceptivo o espetador?
Portanto, não seria exagerado notabilizar o feito da Câmara Municipal da Ponta do Sol em aproximar o cinema de outros concelhos. O primeiro “Encontro com o Cinema” ocorreu com a projeção de O Sal da Terra, nomeado ao Óscar de Melhor Documentário em 2015 na passada sexta-feira, documentário focado na obra de um dos mais respeitados repórteres fotográficos, o brasileiro Sebastião Salgado. Ou ainda do Funchal Shortcutz no Barreirinha Bar Café, sem esquecer o Madeira Film Festival que começa no próximo dia 25 e prolonga-se até dia 1.
De salientar também, neste percurso, a exibição de Operação Eye in the Sky, de Gavin Hood por apenas uma semana nas nossas salas, um filme que aborda o combate ao terrorismo através das nossas tecnologias, nomeadamente com base em drones e que, acarreta uma mensagem nas suas dimensões: social, ético, política, entre outras. Este brilhante thriller de espionagem protagonizado por Helen Mirren, Aaron Paul e o recentemente falecido Alan Rickman, deveria ter tido mais marketing envolta, por abordar uma questão do hoje, que lidamos quase sempre nos noticiários. É preciso ensinar cinema – daí o importante papel de instituições educacionais – de um ponto de vista reflexivo, enquanto um produto de ensaio, não apenas de mero entretenimento.